sábado, 13 de novembro de 2010


Com uma estaca de ferro velho

e gélido, o coração foi cravado.

Sem pena. Sem mágoa. Sem desafronta.

Dor voa sobre as nuvens, sopra o vento

As lágrimas que do rosto tombam

Inundando de sangue a pura alma.

Pede ajuda entre dentes. Gritando num sussurro

Com o olhar vazio, suplica. Com a pele rasgada

E de joelhos raspando o chão cai enfermo o corpo dela.

Enfermo e nauseabundo de cansaço.

Assim é a dor.

Assim é a fraqueza mascarada de robustez.

Enquanto a melodia surgir da agonia,

Ela é assim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


Sentia o corpo num êxtase absurdo que a levava ao passado. Na escuridão que afogava o seu olhar, conseguia avistar uma sombra um tanto (ou pouco) familiar. Estava pálida, com os olhos crus a fixar o horizonte quando ouviu gritos, uns gritos que já a tinham feito tremer, correr, fugir. Gritos e sangue. Lembra-se. Um sangue puro de inocência, um vermelho carnudo que vinha do mais íntimo do seu corpo, da sua alma. Sentia-se num turbilhão de tristeza e amargura que lhe arrancavam do peito o calor, congelando-o com memórias. Deixou de sentir o corpo. Havia dor física, uma acutilante dor física que a fez flutuar sobre o seu próprio corpo e avistar uma pequenina alma a tremer de medo nas mãos de um monstruoso ser. No fundo do peito conseguia ver ainda a dor em carne viva, nos membros a dor tatuada a ferro quente, e o fim da pureza e o início de uma luta percorreram-lhe a pele num arrepio acutilante. Os olhos crus continuavam a fixar o horizonte vivendo terrivelmente dolorosas imagens, foi então que gritou por colo e adormeceu com as lágrimas a queimarem-lhe o rosto...