terça-feira, 28 de dezembro de 2010


Jurei não te esquecer, meu amor, jurei. Assim como jurei não voltar a cruzar a rua onde te deixei. Passo as esquinas do tempo e temo ferozmente antever o teu vulto, temo intensamente desviar o meu olhar para os teus dedos meigos e encontrá-los cruzados com outros que não os meus, ver os teus braços apoiados noutros ombros e os teus olhos mergulhados noutra essência. Depois disto desviaria a atenção, fugiria para casa a chorar enquanto com as mãos afastava a multidão que me impedia de andar, pontapeava os casais apaixonados e chorava ainda mais amaldiçoando todas as pessoas que amam.

Mas mesmo assim não te esqueceria, meu amor, não conseguiria arrancar de mim tudo o que um dia foi tatuado em cada poro da minha carne. Mendigaria o teu amor até me dares a insignificativa esmola de um olhar de soslaio. Até que um dia, me cruzaria contigo de novo, tu com os dedos frios e mortos entrelaçados numa mão quente, voltarias o rosto para trás e com o mais duro e penetrante olhar, me suplicarias “Não me deixes”. As minhas lágrimas cairiam e eu sussurrava baixinho “Não, não te deixo. Mendigo e mendigarei sempre o teu amor, até que a esmola seja maior que o sofrimento”. Abandonaria para sempre a tua luz e jamais te encontraria, jamais os nossos destinos se voltariam a ligar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Trincava o tempo e agarrava-o nos dentes,
Fugidio, passava o medo de morrer por ela
Horas a fio.
Cestos cheios de minutos, como maçãs podres
Caídas da árvore, doentes no pomar,
Iam abraçados ao seu corpo
Levando-a ao limiar.
Aquecia-lhe a pele o luar dourado
E ardente,
Tal e qual seu peito queimado e doente.
Ela lá ia com o sangue na algibeira do olhar,
Cobrindo-o com um lençol de luz artificial.
Cestos cheios de segundos, levavam-lhe a vida para o nada.
No chão, rasgada. De pé, magoada. Levou-a do pomar para o poço da Fada.
Assim era há instantes, nuns segundos inquietantes em que se sentia derrotada.