terça-feira, 28 de dezembro de 2010


Jurei não te esquecer, meu amor, jurei. Assim como jurei não voltar a cruzar a rua onde te deixei. Passo as esquinas do tempo e temo ferozmente antever o teu vulto, temo intensamente desviar o meu olhar para os teus dedos meigos e encontrá-los cruzados com outros que não os meus, ver os teus braços apoiados noutros ombros e os teus olhos mergulhados noutra essência. Depois disto desviaria a atenção, fugiria para casa a chorar enquanto com as mãos afastava a multidão que me impedia de andar, pontapeava os casais apaixonados e chorava ainda mais amaldiçoando todas as pessoas que amam.

Mas mesmo assim não te esqueceria, meu amor, não conseguiria arrancar de mim tudo o que um dia foi tatuado em cada poro da minha carne. Mendigaria o teu amor até me dares a insignificativa esmola de um olhar de soslaio. Até que um dia, me cruzaria contigo de novo, tu com os dedos frios e mortos entrelaçados numa mão quente, voltarias o rosto para trás e com o mais duro e penetrante olhar, me suplicarias “Não me deixes”. As minhas lágrimas cairiam e eu sussurrava baixinho “Não, não te deixo. Mendigo e mendigarei sempre o teu amor, até que a esmola seja maior que o sofrimento”. Abandonaria para sempre a tua luz e jamais te encontraria, jamais os nossos destinos se voltariam a ligar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Trincava o tempo e agarrava-o nos dentes,
Fugidio, passava o medo de morrer por ela
Horas a fio.
Cestos cheios de minutos, como maçãs podres
Caídas da árvore, doentes no pomar,
Iam abraçados ao seu corpo
Levando-a ao limiar.
Aquecia-lhe a pele o luar dourado
E ardente,
Tal e qual seu peito queimado e doente.
Ela lá ia com o sangue na algibeira do olhar,
Cobrindo-o com um lençol de luz artificial.
Cestos cheios de segundos, levavam-lhe a vida para o nada.
No chão, rasgada. De pé, magoada. Levou-a do pomar para o poço da Fada.
Assim era há instantes, nuns segundos inquietantes em que se sentia derrotada.

sábado, 13 de novembro de 2010


Com uma estaca de ferro velho

e gélido, o coração foi cravado.

Sem pena. Sem mágoa. Sem desafronta.

Dor voa sobre as nuvens, sopra o vento

As lágrimas que do rosto tombam

Inundando de sangue a pura alma.

Pede ajuda entre dentes. Gritando num sussurro

Com o olhar vazio, suplica. Com a pele rasgada

E de joelhos raspando o chão cai enfermo o corpo dela.

Enfermo e nauseabundo de cansaço.

Assim é a dor.

Assim é a fraqueza mascarada de robustez.

Enquanto a melodia surgir da agonia,

Ela é assim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


Sentia o corpo num êxtase absurdo que a levava ao passado. Na escuridão que afogava o seu olhar, conseguia avistar uma sombra um tanto (ou pouco) familiar. Estava pálida, com os olhos crus a fixar o horizonte quando ouviu gritos, uns gritos que já a tinham feito tremer, correr, fugir. Gritos e sangue. Lembra-se. Um sangue puro de inocência, um vermelho carnudo que vinha do mais íntimo do seu corpo, da sua alma. Sentia-se num turbilhão de tristeza e amargura que lhe arrancavam do peito o calor, congelando-o com memórias. Deixou de sentir o corpo. Havia dor física, uma acutilante dor física que a fez flutuar sobre o seu próprio corpo e avistar uma pequenina alma a tremer de medo nas mãos de um monstruoso ser. No fundo do peito conseguia ver ainda a dor em carne viva, nos membros a dor tatuada a ferro quente, e o fim da pureza e o início de uma luta percorreram-lhe a pele num arrepio acutilante. Os olhos crus continuavam a fixar o horizonte vivendo terrivelmente dolorosas imagens, foi então que gritou por colo e adormeceu com as lágrimas a queimarem-lhe o rosto...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


Entre as esperanças e o medo, vê um tempo incerto, uma tempestade de marés que afogam os seus olhos, com esta ou aquela água. As paredes conseguem sussurrar mais alto que a sua voz fraca, quase inaudível mas ensurdecedora, pois nada a consegue mais amordaçar. Corta os pulsos com uma faca afiada, o sangue parece ser pedra que ao cair mata um sorriso e cria uma dor. O coração cheio de gritos rebenta como um balão e polvilha toda a sua mente de fantasmas, calando a dor, calando o medo, cravando um vidro em vez do olhar. Com uma tesoura corta a língua, guarda-a num frasco, cega e arranca os olhos com um bisturi, faz um picotado sobre a barriga e com toda a raiva do mundo rasga a pele. Espeta uma lança no pé, corta com um machado todos os dedos das mãos, perfura o estômago e esfola o que lhe restar do corpo, até que a dor se sobreponha ao medo, à raiva e à asfixia da sua mente cansada. É tempo de morrer, aproxima-se esse tempo…o tempo do fim está próximo. Resta enterrar o corpo nauseabundo, pálido e frio. Resta-lhe um sono profundo. Apenas um sono.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Não. Não é falta de palavras ou de modos de expressão. É a ausência de alguém, a presença de imagens, enigmas, dúvidas, segredos. É a fusão negra de toda uma preocupação, uma vontade de apartar e seguir a minha estrela para um outro lugar bem distante. É o desejo da libertação sem sucesso, a inabilidade de ser amada, a súplica por atenção e um abraço de alguém que me entenda, que me leva para este estado de esgotamento, de intolerância, de afastamento social, de frieza, de silêncio. A pureza das folhas tem-me suplicado por algumas gotas de tinta, mas a minha capacidade de escrita parece ter fugido. Escrevo, e às vezes esqueço-me do que escrevi na linha anterior, esqueço-me do sentido das palavras que rabisquei na primeira frase. Esqueço-me que ninguém vai sentir o texto como eu. Que ninguém vai chorar ao ler esta meia dúzia de palavras, como eu estou a fazer ao escrevê-las. Esqueço-me que estou sujeita a ser lida por alguém que me julga. Que estou exposta a juízos de valor completamente errados, mas estarei eu capaz de deixar este refúgio?...nem pensar. Porque aqui encontro-me a mim própria, por vezes. Aqui abro a boca do meu coração e grito até quando me apetecer. Aqui, posso perder-me na magia das letras desenhadas e esquecer todo o resto.

Silêncio.

domingo, 3 de outubro de 2010

Grito,


De vez em quando, sinto necessidade de Te falar. Confesso que, por vezes, só me lembro de Ti nos momentos mais desgastantes, em que sinto não aguentar mais, em que sinto uma dor tão grande sobre as costas que me sinto cair em todos os lugares que pisem os meus pés. Por isso te peço perdão, por isso e por todas as vezes que te envergonhei. Perdão.
Às vezes pergunto-me onde andas, se andas ocupado com outras gentes, se estás cansado de cuidar do Mundo e adormeceste sobre uma nuvem, porque sinto-me tão só, tão desprotegida, que perco o rumo, o Teu rumo Pai.
Os meus olhos anseiam cruzar os teus e mergulhar numa calma nunca por mim sentida. Oh Pai, porque me abandonas tantas e tantas vezes? Porque nem uma carícia no rosto sinto quando choro incontrolável? Porque não me pegas ao colo como uma criança e embalas até adormecer? Pai... meu Pai, ajuda-me! Já me deste os membros que me permitem andar, já me deste um rosto que me identifica, uma língua para comunicar e uns olhos que me ajudam a seguir o caminho menos sinuoso. Já me deste as coisas mais difíceis de conceber, porque não me dás um pouco de calma para o meu coração? Porque não me ajudas agora?? PAAAAIIIIIII!!!!!!! Ouve-me!!!! sinto-me a cair. sem força. sem destino. sem luz e sem saber por onde ir. A Ti, que fizeste o que ninguém fará pelo Mundo, imploro paz e verdade! Oh Pai, meu Pai do céu...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sinto a garganta a meio, como se um punhal de ferro estivesse cravado com a força de um leão, e a dividisse em duas partes distintas. Inunde-se até ao topo a mais perto do coração, como uma taça cheia de vinho cor de sangue, inunde-se de lágrimas desde o estômago ao último centímetro da traqueia.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

'


O coração havia-lhe rebentado nas mãos. Quando ela o tentou retirar do peito para verificar se ainda batia, todo o sangue que corria apressadamente entre as veias fez uma pintura abstracta no seu olhar. Tal qual bomba relógio que não permite pensar, os seus sentidos reagiram friamente ao fim lastimável da sua vida, quando em segundos tudo aquilo que a fazia viver se desmoronou à sua frente.

Sentou-se na poltrona de palha em frente à lareira com o coração na palma da mão esquerda, enquanto limpava as lágrimas com a outra mão. O sangue escorria-lhe pelos dedos trémulos e salpicava o chão com gotas de uma vida perdida. Pegou num velho livro que tinha lido há tempos atrás. As folhas estavam gastas e não se percebiam todas as palavras. Cuidadosamente começou a ler para o vento…sabia de cor todas as promessas que ali faltavam e todos os sinais de pontuação que inibiam o texto (in)completo. Aos poucos foi baixando o tom de voz até ficar apenas um sussurro a voar pelo pequeno quarto onde se encontrava. Sentiu-se fraca o suficiente para não querer mais lutar pela sobrevivência inútil. O coração havia-se tornado transparente tal como as palavras que já não existiam. As gotas de sangue tinham secado e os olhos dela fecharam-se com o tempo. As mãos não mais responderam e em segundos caíram sobre o colo, atirando o livro e o seu próprio coração para o piso ensanguentado. A cabeça rodou ligeiramente e das palavras que ditava, sobrou o eco suave das entrelinhas sofridas do seu coração. Fez-se silêncio e ela morreu, morreu de amor com o coração aos pés e a sua história escrita num livro eterno, a alma.

sábado, 14 de agosto de 2010

...


Desde que o relógio de madeira velha marcava a meia-noite, tudo ficara pela metade. Do rosto dela brotavam lírios transparentes, que percorriam apenas o espaço vazio que havia entre o olhar e o olfacto. Do lado de fora da janela havia uma voz incansável que lhe preenchia o cérebro, pedindo-lhe que se atirasse em queda livre, pedindo-lhe que de uma vez por todas imobilizasse todos os músculos das pernas que há muito haviam desgraçado todo o corpo que suportavam, atirando-se cansadas para uma poltrona de vidro. Essa voz soava entre um ouvido e outro, batia na parede e voltava para dentro da cabeça daquele corpo feminino e (quase) sem vida.

Desde que a meia-noite fora lançada fortemente para a Lua, que os braços caíram cansados e frios, ficando pendurados sobre a esquina da rua suspensa. Os livros que as mãos iam decalcando devagar à medida que os olhos tentavam imaginar o contorno, ficaram pela metade como tudo naquela noite. Não sobravam forças, restava a certeza da profundidade da dor do precipício do seu coração amordaçado. A janela aberta parecia magnetizar-lhe os movimentos, fazendo-a mover devagar para o fim. A voz ténue ia ficando interiorizada à medida que o seu olhar vazio e frio se aproximava da escuridão do céu. Elevou as mãos nauseabundas de sangue à cara e procurou os pequenos lírios que havia semeado. Congelou-os. Deu um passo. Rasgou as pinturas dos sonhos. Queimou a fraqueza do seu corpo tornando-se ainda mais fraca. Caiu. Tornou-se inerte. A voz calou-se. A rua parou. A lua apagou-se. As gentes choraram o final de uma vida vivida na meação, sem visão, sem forças. Naquela noite em que tudo ficara pela metade, a metade volveu-se em nada. Cai o pano e mais uma peça termina.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Desejos,


Esfomeadas, loucas, desejosas Gaivotas

Sobrevoam o teu corpo. Ardente, suada, excitada presa

Te tornas quando as penas sossegam a macia pele

Que te cobre o libido.

Debicam a prisão de luxúria que escondes nos poros.

Atacam o mais recôndito de ti querendo amar-te.

Levam a espuma da água límpida do mar

Ao encontro da tua boca semicerrada, seca e esfomeada.

“Desejas a carne nua no teu corpo”,

Dizem as gaivotas mergulhando no teu olhar.

Querem-te como a uma presa ávida de ser atacada.

Esfomeadas gaivotas

Sobrevoando um esfomeado corpo.

Apaixonada gaivota

Sobrevoando o teu corpo quente

Sedenta de ti, sedento de mim.

Sedentos de Nós.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vem sentar-te ao meu lado, querido, e olha como o mar é tão incerto como a vida. Olha como as gaivotas o sobrevoam com fluidez mas respeito, e sente a chama de medo que as ondas lançam como flechas cortantes. Corre uma brisa fresca que me faz eriçar os poros molhados pela chuva. Tenho frio. Abraça-me agora, querido, como se fosses um cobertor de lã que aquece os lençóis congelados de verão. Aquece-me o corpo com a tua pele, e o coração com os teus olhos de fogo. Um fogo ardente que rasga a íris apaixonada entrando nela sem pudor. Tenho frio, mas com o teu corpo a envolver-me estou bem. Não sinto frio, sinto-te a ti.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

noite.


Deram as mãos num silêncio que se ouvia na cidade mais próxima. Os olhos deles pareciam conter pequenos riachos, que em vez de peixes, nadavam pérolas de amor que juntas faziam o colar da paixão. Um manto tecido pela cumplicidade tapava o corpo nu do céu que tremia de frio, enquanto eles permaneciam à vista desarmada inscritos na doçura da sua história.
Os beijos leves flutuavam sobre a pele de ambos arrepiando todos os poros sensíveis, molhados com orvalho e brilhantes com o luar reflectido. Tudo isto e apenas eles. Não havia mais nada. Soou um beijo leve. Deram as mãos num silêncio que se ouvia na cidade mais próxima e adormeceram a Lua embalando-a com o seu amor.

quarta-feira, 14 de julho de 2010


Com carinho, deste-me um beijo em cada olho semiaberto e adormecemos um ao lado do outro, de mãos dadas, apaixonados pelo nosso próprio amor, pela nossa própria história.

domingo, 6 de junho de 2010


Peguei nas palavras ao colo, como se tivesse nos braços uma criança. Embalei-as. Cantei-lhes os fados de Lisboa. Embrulhei-as em pedacinhos de algodão. Atirei-as ao rio e rasgaram-se com as lágrimas das sereias. Afundaram-se! Depois, o amor veio com a corrente, dobrado em quatro, e tal como tinha feito com as palavras, embalei-o, cantei para ele os mesmo fados, com cheiro a Rosmaninho e boémia, embrulhei-o em doces beijos e atirei-o ao rio. O Amor não se rasgou com as minhas lágrimas, não morreu com o rio, nem se desvaneceu. O Amor fortaleceu com a tristeza, com a luta e com a dor. O Amor é o Amor e nada nem ninguém consegue apagá-lo!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Ainda me lembro de quando me ofereceste uma flor em jeito tímido...o teu olhar continua o mesmo, apaixonado. E o meu rendido ao teu encanto.

sábado, 15 de maio de 2010

Indiferenças são, sempre, todas as coisas iguais... que se olham, ignoram e no fundo, amam-se verdadeiramente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fiz-me em silêncio, cobri-me de um manto branco e derramei toda a minha a minha dor em linho. Gritei mas ninguém ouviu. Avisei mas negaram aceitar. Fiz-me em silêncio quando o céu se fechou e dormi.

domingo, 2 de maio de 2010

A Luz trespassou-me o peito como uma flecha e disse-me baixinho "Gostava de ficar, abraça-me"...mas o meu corpo ficou imóvel. Ela cruzou-se comigo em câmara lenta,voltou devagar a cabeça e correu para a vida.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

*

De alma gentil e doce, de aparência frágil mas forte, há um ser belo e cativante. Um coração doce que existe no fundo de um corpo vivo e inexplicavelmente indispensável no meu caminho. De rosto angelical e olhos divinamente afáveis, há um ser que me ajuda a andar e a enfrentar os meus medos. De palavras fortes e acolhedoras, há uma luz que se acende sempre que o meu coração está escuro. Há uma força que me ergue das profundezas e me traz aconchego ao peito frio. Descobri, a rastejar por um sorriso, que existia uma estrela mais cintilante que qualquer outra, e incomparavelmente mais bonita que o próprio Sol. Mais forte que a muralha da China. Mais meiga que um anjo. Mais compreensiva que o meu próprio ego. Mais protectora que o pôr-do-sol quando acaricia o mar, é ela, a minha Madrinha, o meu refúgio! A ti meu amor, que me deste a mão, o meu eterno obrigada! Quero-te sempre, mas sempre comigo! És o ser mais completo, belo e forte que já conheci! Obrigada por existires, madrinha da Medusa, madrinha Aglaia!

quinta-feira, 15 de abril de 2010


(...) Afagar-te os cabelos. Sentir o teu rosto. Contornar-te os lábios com os dedos enquanto te olhava profundamente. Inalar o teu perfume exótico e ler na tua expressão o amor que nunca negaste (...)

Eis o momento de agarrar o chão com as mãos,

levantá-lo como um lençol de luz e passar por debaixo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Era uma vez,

Estava escuro. No silêncio do nada podia ouvir-se o soluçar de alguém pequeno e frágil enquanto os passos da dor se iam aproximando cada vez mais daquele covil visível. A pequena menina vivia a esconder-se e a fugir dela, mas todas as noites os seus sonhos eram atormentados pelas máculas negras e gritantes. Todas as manhãs, o Sol feria-lhe os olhos e a menina fingia estar doente para chorar à vontade. A dor parecia correr atrás dela, pegar-lhe pelos pulsos, atirá-la contra o chão de pedra, pisá-la e tomar posse daquele corpo frágil. O sorriso quando a visitava segredava-lhe as mais belas palavras mas nem isso a consolava, nesses momentos em que o céu se fechava e parecia não mais ficar azul, a menina chorava, chorava muito. Um dia, mais ninguém lhe conseguiu dar a mão e a menina transformou-se numa boneca de trapos com as lágrimas presas no olhar. A verdade, é que a menina, era uma menina adulta com uma profunda dor na sua história que só queria um colo e nem o sorriso viu isso.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

...

Camila era uma mulher jovem, com os sentimentos mais nobres a correrem-lhe nas veias. A sensibilidade que se avistava ao longe corria com os ventos da cidade, descia as ruas, cruzava-se com o rosto das pessoas e cumprimentava-as fugidia. Havia passado parte da sua vida com segredos dentro de si, que tinha prometido que iriam morrer com ela, no entanto nem sempre as coisas acontecem como planeado e em breve a sua vida mudaria para sempre.

(excerto de "Duas Vidas Numa Só", por Camila Tchékhov)

domingo, 11 de abril de 2010



Sinto-me uma pedra inútil e fria. Sinto-me cansada e fraca.

Hoje dói tudo. Custa qualquer tipo de movimento. Custa ouvir ou pronunciar a mais simples das palavras. Custa o cruzar de olhares. Custa estar só no meio de tanta gente. Custa sorrir e muito mais fingir que estou bem. Custa escrever e expressar aquilo que a alma quer, porque hoje mais do que nunca as palavras marcam e fazem mal.

Por isso, hoje não me digam nada. Não me tentem confortar com palavras cristalinas. Aconcheguem-me no colo como uma criança e embalem-me até parar de soluçar ou até mesmo adormecer, mas não me digam nada. Deixem-me chorar até me acalmar, mas não digam nada. Hoje quero respirar silêncio e beber as minhas próprias lágrimas, hoje tudo dói.

sexta-feira, 9 de abril de 2010


(...) Abri os olhos. Estava ali deitada, o rosto sem expressão, naquele quarto vazio. No silêncio daquela manhã ouvia somente o barulho da minha própria respiração e as fracas batidas do meu coração. A garganta fechada, quase a sufocar, tentava encontrar algum ar naquela atmosfera gélida, com um cheiro a melancolia.
Levantei-me e olhei-me ao espelho. O meu rosto, inundado em tristeza, deixava transparecer a depressão que eu estava a viver. Consegui encontrar vestígios das lágrimas que correram, sem cessar, pelo rosto nessa noite. Quase não conseguia abrir os olhos. A visão estava toldada pelo excesso de amargura deixado por aquelas gotículas de sal.
Abandonei a solidão daquele quarto para ir lavar as máculas. Não conseguia esconder a dor que tinha vivido nos últimos sete anos, sete anos ocultada pelo receio de provocar o sofrimento numa criança inocente. O amor de mãe é o mais verdadeiro e precioso sentimento que pode existir. Como mãe, tive de suportar um casamento disfarçado, em prol da felicidade do meu filho. Todavia isso era impossível. Como poderia uma criança viver feliz no seio de uma família em que não há amor? As nossas vidas teriam de mudar. Estava decidida a fazê-lo, para nosso bem. (...)


(excerto de algo sem nome, por Camila Tchékhov)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mas o céu suspira e os anjos que voam contigo pela mão,

Prendem o coração à saudade

E até as calmas e esverdeadas águas do mar

Se transformam em marés arrebatadoras que matam a areia.

Sobrevoas as nuvens com as tuas plumas protectoras de ser divino

E confundes-te com a serenidade das noites melancólicas.


Nada se sobrepõe ao pensamento da última despedida, meu anjo.
Só queria um abraço.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Intemporalidade de Amar,



(...) Está frio aqui, a casa está vazia, falta-lhe a alma, a vida de alguém marcada nos poros destas paredes. Os vidros e os espelhos estão embaciados, e daqui vejo apenas um grande rochedo que desmoronou e se encontra agora em frente ao portão acorrentado e enferrujado. Estive deitada por cima da colcha branca de linho e o meu corpo estava inerte, completamente petrificado pela saudade que me invade cada vez mais o coração, que me prende os movimentos como se me acorrentassem as duas pernas, os dois braços e os fechassem com um aloquete inquebrável. Entre os dedos escorrem-me lágrimas que voamdos meus olhos como livres papagaios de papel no ar, que depois descem pelas unhas e salpicam o chão como gotas de água que regam as flores secas. Acho que até agora, já perdi parte dos sentidos. Sinto fragmentos de cinza entre cada palavra, olhar, gosto ou o que quer que eu toque. Sou terra podre e seca depois de ser rejeitada, onde brotam flores murchas de pedra, replectas de espinhos cortantes como punhais que trespassam um ser. A tua ausência deixa-me assim, com retalhos de coração nas mãos. (...)

(excerto de "A Intemporalidade de Amar", por Camila Tchékhov)

domingo, 4 de abril de 2010

Capítulo III - Excerto

(...) Sou velha sim, mas ainda consigo escrever, apesar dos tremores e da falta de coerência entre cada letra e frase. Umas saem direitas e belas, outras ficam abaixo da linha e suspensas no nada, no branco do papel. Mas, sei que me entendes, e o mais importante não está escrito neste papiro, mas nas linhas do meu coração cada vez que penso em ti. Os meus dedos já não se conseguem adaptar à forma da caneta ou da pena com que sempre escrevi para ti, por isso uso algo mais flexível, que me deram quando fiquei uns dias paralisada numa cama de hospital. Não sei se alguém vai ler isto mas espero que encontrem este diário algum dia, e sintam pelo menos metade daquilo que eu sinto agora, e tento transparecer com o contorno destas palavras. Vou deixá-lo guardado num cofre debaixo da cama, junto com alguns bilhetes, fotografias, desenhos, pendentes e um colar de pérolas. Fica fechado à chave e com um cadeado dourado e cruzado a envolvê-lo. Quero que fique seguro e quero estar certa que não é encontrado por alguém desconhecido. Está a ficar escuro e acho que me vou deitar mesmo sem jantar. Os meus dentes que em tempos me eram úteis e eficazes, não passam de simples obstáculos da fala e nem me permitem triturar qualquer alimento, e hoje não me apetece lembrar que tenho de ingerir uns alimentos estranhos todos esmagados e líquidos que me provocam dores de estômago. Hoje, quero apenas sonhar com a tua imagem desenhada no céu e sentir-te bem perto de mim, como um dia já deves ter estado. Boa noite. (...)

(excerto de "O Diário de Uma Velhice", por Camila Tchékhov; fotografia : avó)

Capítulo I


Estou velha e cansada. As rugas cobrem-me a angústia e caem sobre os meus olhos. Sinto os membros incapacitados, cada vez mais inertes no meu corpo gasto. As mãos já estão deformadas, e também elas com rugas a caracterizarem a pele. A memória já falha. Não sei quem sou, por vezes. Não reconheço aqueles que me falam e me tocam e acarinham. Não me lembro do barulho da chuva a cair no telhado nem do ribombar dos trovões. Cada vez que há um fenómeno da natureza, têm de me explicar o que é…e só depois me recordo de como eu gostava de andar à chuva e apreciar toda aquela beleza da paisagem do céu a chorar. Sinto-me triste pela traição da minha memória, tenho a certeza que tinha tanta coisa lá guardada de que não me queria esquecer, mas, a velhice ou a sabedoria, como queiras chamar, traz perdas, perdas irremediáveis. Contudo, a pele que hoje visto não é a mesma da juventude. É pesada e sensível. É pálida e escura ao mesmo tempo. O meu Mundo mudou.


(excerto de "Diário de uma Velhice", por Camila Tchékhov)

sábado, 3 de abril de 2010

...

A verdade é que nunca imaginei ver o que vejo hoje, defrontar-me com pormenores incomodativos, ter à frente manobras variadas de falsidade e deslealdade. Quando hoje, por segundos, me deparei com determinadas verdades (ou vestígios de erros cometidos) o Mundo caiu-me em cima, ou então subiu tanto que me enterrou pelo pescoço, já nem sei ao certo como me senti, mas escolham a maneira que quiserem, fiquem apenas com a ideia de que me sufocou. Sufocou ao ponto de me tremerem as mãos, da voz se perder algures entre os pensamentos e o que os meus olhos viam, o que a minha mente ouvia e retia naquele momento. Porque haveria aquilo de ser verdade? Porque haveria de mais uma vez, a minha intuição estar certa? A verdade, é que parece que mais uma vez não me enganei, e ali estava a prova viva nas minhas mãos! Resta-me questionar-me a mim mesma, e tentar atenuar a dor que sinto porque afinal, nada está provado! Sim, Camila Tchékhov está na hora de uma vez em dez, não pensares no assunto, distrai-te Camila, distrai-te.......

terça-feira, 30 de março de 2010






HOJE APETECE-ME CHORAR, DORMIR E CHORAR ENCOSTADA AO OMBRO DE ALGUÉM. E SER ACOLHIDA NUM ABRAÇO PROFUNDO. E SER BEIJADA NA FACE OUVINDO BAIXINHO "ESTOU AQUI"!!!!

quinta-feira, 25 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

De novo,









Voltei a sentir-me atraída. Senti-me atraída pela escuridão das águas. Ouvi, de novo, uma voz a chamar-me repentinamente para mergulhar, para entregar o meu corpo às águas paradas como se fosse filha da Natureza. Voltei a estar no limiar, voltei a conseguir resistir.
Senti-me atraída, senti-me atraída pela escuridão das águas. Senti-me atraída pela Morte.

RESISTI, MAS PARA QUÊ??

quarta-feira, 17 de março de 2010

'


Jurei não te esquecer, meu amor, jurei. Assim como jurei não voltar a cruzar a rua onde te deixei. Passo as esquinas do tempo e temo ferozmente antever o teu vulto, temo intensamente desviar o meu olhar para os teus dedos meigos e encontrá-los cruzados com outros que não os meus, ver os teus braços apoiados noutros ombros e os teus olhos mergulhados noutra essência. Depois disto desviaria a atenção, fugiria para casa a chorar enquanto com as mãos afastava a multidão que me impedia de andar, pontapeava os casais apaixonados e chorava ainda mais amaldiçoando todas as pessoas que amam.

Mas mesmo assim não te esqueceria, meu amor, não conseguiria arrancar de mim tudo o que um dia foi tatuado em cada poro da minha carne. Mendigaria o teu amor até me dares a insignificativa esmola de um olhar de soslaio. Até que um dia, me cruzaria contigo de novo, tu com os dedos frios e mortos entrelaçados numa mão quente, voltarias o rosto para trás e com o mais duro e penetrante olhar, me suplicarias “Não me deixes”. As minhas lágrimas cairiam e eu sussurrava baixinho “Não, não te deixo. Mendigo e mendigarei sempre o teu amor, até que a esmola seja maior que o sofrimento”. Abandonaria para sempre a tua luz e jamais te encontraria, jamais os nossos destinos se voltariam a ligar.

domingo, 14 de março de 2010

A um amigo,


Perdi-me hoje nos teus olhos, meu bem. Lembrei-me de como era o teu olhar quando te cruzavas comigo, de como era o teu sorriso maroto quando inventavas histórias de heróis e princesas. Ao ver-te quando o teu sangue quente te percorria os sentidos, chorei confesso, chorei muito e escrevi-te uma carta mesmo sabendo que jamais alguém a lerá, mas sabes, tenho a esperança que me respondas, e ultimamente, todos os dias procuro uma resposta tua. Recordei-me das nossas brincadeiras e de como me ria contigo. Hoje enquanto me olhava ao espelho juro que te vi do meu lado, juro. Olhaste-me de uma forma meiga, sorriste, sopraste-me ao ouvido e foste embora tão de repente como me deixaste da última vez. Com a mesma serenidade, doçura... Ainda hoje me lembro da tua expressão de anjo deitado no meio das plumas, ainda hoje sonho com o último toque da minha mão na tua, completamente gelada e inerte. Ainda hoje, sinto bem no peito a dor da tua perda...ainda hoje, desejo intensamente que aquela despedida antes de partires não tivesse sido feita com tanta intensidade, porque embora não saibam, senti naquele instante que seria a última vez que me irias beijar a face. A ti meu bem, mendigo a amizade que agora não tenho e deixo-te um beijo perdido no vento. Que olhes por mim.

sábado, 13 de março de 2010

'
« And then she said,- "What's that on your eyes?"She touched me. Yes, I was crying.- "For many years I've tried, but now I'm too tired to hide.No reason why. Just need to cry."And then she said,- "I'm sorry I asked."She kissed me and took this pain off my chest.Each tear that fell down vanished in the ground.- "No need to dry. Just need to cry."

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Realidade Irreal


O Sol penetrava as águas daquele rio, enfiava os raios escaldantes no fundo, partindo ao meio todas as gotas. Enquanto a sua frescura lhe molhava o corpo feminino e esguio, o vento, que corria de um lado para o outro apressado como se estivesse atrasado para algum encontro, batia-lhe agressivamente na cabeça e arrancava-lhe o cabelo molhado. O vulto feminino a boiar sobre a mais bela paisagem de sempre olhando o céu, pensava em como era bom a Natureza lhe poder tocar como se de um amante se tratasse. Acariciava-lhe a face, beijava-lhe os lábios com frescura, apaziguava a alma enquanto a embalava e mais que isso, amava-a mesmo sem saber de quem se tratava. Parecia tudo perfeito. Sentiu-se atraída e seduzida. Sentiu uma força a puxar-lhe as pernas. O corpo mergulhou… à superfície do manto brilhante feito de gotas via-se um braço aflito. As águas haviam traído aquele corpo. Bateram-lhe. Agarraram-lhe os cabelos e puxaram-no para o seu íntimo. Amarraram as suas mãos delicadas e prenderam-lhe os movimentos. A voz da pequena era abafada. Uma faca atravessava-lhe os pulmões, trespassava o coração, subia à garganta e descia aos músculos. Estava escuro. A vida em segundos estava a acabar. Bebeu com gula toda a água que lhe foi possível. Esperneou. Gritou. Chorou. Desesperou. Pensou. A água estava a engoli-la. Respirava. Não respirava. Respirava. Não respirava. O seu corpo havia ficado pesado. Paralisou. Não respirava. Não respirou mais. Morreu. Entregou-se ao seu amante.

domingo, 3 de janeiro de 2010

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Desde que o relógio de madeira velha marcava a meia-noite, tudo ficara pela metade. Do rosto dela brotavam lírios transparentes, que percorriam apenas o espaço vazio que havia entre o olhar e o olfacto. Do lado de fora da janela havia uma voz incansável que lhe preenchia o cérebro, pedindo-lhe que se atirasse em queda livre, pedindo-lhe que de uma vez por todas imobilizasse todos os músculos das pernas que há muito haviam desgraçado todo o corpo que suportavam, atirando-se cansadas para uma poltrona de vidro. Essa voz soava entre um ouvido e outro, batia na parede e voltava para dentro da cabeça daquele corpo feminino e (quase) sem vida.
Desde que a meia-noite fora lançada fortemente para a Lua, que os braços caíram cansados e frios, ficando pendurados sobre a esquina da rua suspensa. Os livros que as mãos iam decalcando devagar à medida que os olhos tentavam imaginar o contorno, ficaram pela metade como tudo naquela noite. Não sobravam forças, restava a certeza da profundidade da dor do precipício do seu coração amordaçado. A janela aberta parecia magnetizar-lhe os movimentos, fazendo-a mover devagar para o fim. A voz ténue ia ficando interiorizada à medida que o seu olhar vazio e frio se aproximava da escuridão do céu. Elevou as mãos nauseabundas de sangue à cara e procurou os pequenos lírios que havia semeado. Congelou-os. Deu um passo. Rasgou as pinturas dos sonhos. Queimou a fraqueza do seu corpo tornando-se ainda mais fraca. Caiu. Tornou-se inerte. A voz calou-se. A rua parou. A lua apagou-se. As gentes choraram o final de uma vida vivida na meação, sem visão, sem forças. Naquela noite em que tudo ficara pela metade, a metade volveu-se em nada. Cai o pano e mais uma peça termina.