sexta-feira, 22 de outubro de 2010


Entre as esperanças e o medo, vê um tempo incerto, uma tempestade de marés que afogam os seus olhos, com esta ou aquela água. As paredes conseguem sussurrar mais alto que a sua voz fraca, quase inaudível mas ensurdecedora, pois nada a consegue mais amordaçar. Corta os pulsos com uma faca afiada, o sangue parece ser pedra que ao cair mata um sorriso e cria uma dor. O coração cheio de gritos rebenta como um balão e polvilha toda a sua mente de fantasmas, calando a dor, calando o medo, cravando um vidro em vez do olhar. Com uma tesoura corta a língua, guarda-a num frasco, cega e arranca os olhos com um bisturi, faz um picotado sobre a barriga e com toda a raiva do mundo rasga a pele. Espeta uma lança no pé, corta com um machado todos os dedos das mãos, perfura o estômago e esfola o que lhe restar do corpo, até que a dor se sobreponha ao medo, à raiva e à asfixia da sua mente cansada. É tempo de morrer, aproxima-se esse tempo…o tempo do fim está próximo. Resta enterrar o corpo nauseabundo, pálido e frio. Resta-lhe um sono profundo. Apenas um sono.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Não. Não é falta de palavras ou de modos de expressão. É a ausência de alguém, a presença de imagens, enigmas, dúvidas, segredos. É a fusão negra de toda uma preocupação, uma vontade de apartar e seguir a minha estrela para um outro lugar bem distante. É o desejo da libertação sem sucesso, a inabilidade de ser amada, a súplica por atenção e um abraço de alguém que me entenda, que me leva para este estado de esgotamento, de intolerância, de afastamento social, de frieza, de silêncio. A pureza das folhas tem-me suplicado por algumas gotas de tinta, mas a minha capacidade de escrita parece ter fugido. Escrevo, e às vezes esqueço-me do que escrevi na linha anterior, esqueço-me do sentido das palavras que rabisquei na primeira frase. Esqueço-me que ninguém vai sentir o texto como eu. Que ninguém vai chorar ao ler esta meia dúzia de palavras, como eu estou a fazer ao escrevê-las. Esqueço-me que estou sujeita a ser lida por alguém que me julga. Que estou exposta a juízos de valor completamente errados, mas estarei eu capaz de deixar este refúgio?...nem pensar. Porque aqui encontro-me a mim própria, por vezes. Aqui abro a boca do meu coração e grito até quando me apetecer. Aqui, posso perder-me na magia das letras desenhadas e esquecer todo o resto.

Silêncio.

domingo, 3 de outubro de 2010

Grito,


De vez em quando, sinto necessidade de Te falar. Confesso que, por vezes, só me lembro de Ti nos momentos mais desgastantes, em que sinto não aguentar mais, em que sinto uma dor tão grande sobre as costas que me sinto cair em todos os lugares que pisem os meus pés. Por isso te peço perdão, por isso e por todas as vezes que te envergonhei. Perdão.
Às vezes pergunto-me onde andas, se andas ocupado com outras gentes, se estás cansado de cuidar do Mundo e adormeceste sobre uma nuvem, porque sinto-me tão só, tão desprotegida, que perco o rumo, o Teu rumo Pai.
Os meus olhos anseiam cruzar os teus e mergulhar numa calma nunca por mim sentida. Oh Pai, porque me abandonas tantas e tantas vezes? Porque nem uma carícia no rosto sinto quando choro incontrolável? Porque não me pegas ao colo como uma criança e embalas até adormecer? Pai... meu Pai, ajuda-me! Já me deste os membros que me permitem andar, já me deste um rosto que me identifica, uma língua para comunicar e uns olhos que me ajudam a seguir o caminho menos sinuoso. Já me deste as coisas mais difíceis de conceber, porque não me dás um pouco de calma para o meu coração? Porque não me ajudas agora?? PAAAAIIIIIII!!!!!!! Ouve-me!!!! sinto-me a cair. sem força. sem destino. sem luz e sem saber por onde ir. A Ti, que fizeste o que ninguém fará pelo Mundo, imploro paz e verdade! Oh Pai, meu Pai do céu...