segunda-feira, 19 de abril de 2010

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De alma gentil e doce, de aparência frágil mas forte, há um ser belo e cativante. Um coração doce que existe no fundo de um corpo vivo e inexplicavelmente indispensável no meu caminho. De rosto angelical e olhos divinamente afáveis, há um ser que me ajuda a andar e a enfrentar os meus medos. De palavras fortes e acolhedoras, há uma luz que se acende sempre que o meu coração está escuro. Há uma força que me ergue das profundezas e me traz aconchego ao peito frio. Descobri, a rastejar por um sorriso, que existia uma estrela mais cintilante que qualquer outra, e incomparavelmente mais bonita que o próprio Sol. Mais forte que a muralha da China. Mais meiga que um anjo. Mais compreensiva que o meu próprio ego. Mais protectora que o pôr-do-sol quando acaricia o mar, é ela, a minha Madrinha, o meu refúgio! A ti meu amor, que me deste a mão, o meu eterno obrigada! Quero-te sempre, mas sempre comigo! És o ser mais completo, belo e forte que já conheci! Obrigada por existires, madrinha da Medusa, madrinha Aglaia!

quinta-feira, 15 de abril de 2010


(...) Afagar-te os cabelos. Sentir o teu rosto. Contornar-te os lábios com os dedos enquanto te olhava profundamente. Inalar o teu perfume exótico e ler na tua expressão o amor que nunca negaste (...)

Eis o momento de agarrar o chão com as mãos,

levantá-lo como um lençol de luz e passar por debaixo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Era uma vez,

Estava escuro. No silêncio do nada podia ouvir-se o soluçar de alguém pequeno e frágil enquanto os passos da dor se iam aproximando cada vez mais daquele covil visível. A pequena menina vivia a esconder-se e a fugir dela, mas todas as noites os seus sonhos eram atormentados pelas máculas negras e gritantes. Todas as manhãs, o Sol feria-lhe os olhos e a menina fingia estar doente para chorar à vontade. A dor parecia correr atrás dela, pegar-lhe pelos pulsos, atirá-la contra o chão de pedra, pisá-la e tomar posse daquele corpo frágil. O sorriso quando a visitava segredava-lhe as mais belas palavras mas nem isso a consolava, nesses momentos em que o céu se fechava e parecia não mais ficar azul, a menina chorava, chorava muito. Um dia, mais ninguém lhe conseguiu dar a mão e a menina transformou-se numa boneca de trapos com as lágrimas presas no olhar. A verdade, é que a menina, era uma menina adulta com uma profunda dor na sua história que só queria um colo e nem o sorriso viu isso.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Camila era uma mulher jovem, com os sentimentos mais nobres a correrem-lhe nas veias. A sensibilidade que se avistava ao longe corria com os ventos da cidade, descia as ruas, cruzava-se com o rosto das pessoas e cumprimentava-as fugidia. Havia passado parte da sua vida com segredos dentro de si, que tinha prometido que iriam morrer com ela, no entanto nem sempre as coisas acontecem como planeado e em breve a sua vida mudaria para sempre.

(excerto de "Duas Vidas Numa Só", por Camila Tchékhov)

domingo, 11 de abril de 2010



Sinto-me uma pedra inútil e fria. Sinto-me cansada e fraca.

Hoje dói tudo. Custa qualquer tipo de movimento. Custa ouvir ou pronunciar a mais simples das palavras. Custa o cruzar de olhares. Custa estar só no meio de tanta gente. Custa sorrir e muito mais fingir que estou bem. Custa escrever e expressar aquilo que a alma quer, porque hoje mais do que nunca as palavras marcam e fazem mal.

Por isso, hoje não me digam nada. Não me tentem confortar com palavras cristalinas. Aconcheguem-me no colo como uma criança e embalem-me até parar de soluçar ou até mesmo adormecer, mas não me digam nada. Deixem-me chorar até me acalmar, mas não digam nada. Hoje quero respirar silêncio e beber as minhas próprias lágrimas, hoje tudo dói.

sexta-feira, 9 de abril de 2010


(...) Abri os olhos. Estava ali deitada, o rosto sem expressão, naquele quarto vazio. No silêncio daquela manhã ouvia somente o barulho da minha própria respiração e as fracas batidas do meu coração. A garganta fechada, quase a sufocar, tentava encontrar algum ar naquela atmosfera gélida, com um cheiro a melancolia.
Levantei-me e olhei-me ao espelho. O meu rosto, inundado em tristeza, deixava transparecer a depressão que eu estava a viver. Consegui encontrar vestígios das lágrimas que correram, sem cessar, pelo rosto nessa noite. Quase não conseguia abrir os olhos. A visão estava toldada pelo excesso de amargura deixado por aquelas gotículas de sal.
Abandonei a solidão daquele quarto para ir lavar as máculas. Não conseguia esconder a dor que tinha vivido nos últimos sete anos, sete anos ocultada pelo receio de provocar o sofrimento numa criança inocente. O amor de mãe é o mais verdadeiro e precioso sentimento que pode existir. Como mãe, tive de suportar um casamento disfarçado, em prol da felicidade do meu filho. Todavia isso era impossível. Como poderia uma criança viver feliz no seio de uma família em que não há amor? As nossas vidas teriam de mudar. Estava decidida a fazê-lo, para nosso bem. (...)


(excerto de algo sem nome, por Camila Tchékhov)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Mas o céu suspira e os anjos que voam contigo pela mão,

Prendem o coração à saudade

E até as calmas e esverdeadas águas do mar

Se transformam em marés arrebatadoras que matam a areia.

Sobrevoas as nuvens com as tuas plumas protectoras de ser divino

E confundes-te com a serenidade das noites melancólicas.


Nada se sobrepõe ao pensamento da última despedida, meu anjo.
Só queria um abraço.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Intemporalidade de Amar,



(...) Está frio aqui, a casa está vazia, falta-lhe a alma, a vida de alguém marcada nos poros destas paredes. Os vidros e os espelhos estão embaciados, e daqui vejo apenas um grande rochedo que desmoronou e se encontra agora em frente ao portão acorrentado e enferrujado. Estive deitada por cima da colcha branca de linho e o meu corpo estava inerte, completamente petrificado pela saudade que me invade cada vez mais o coração, que me prende os movimentos como se me acorrentassem as duas pernas, os dois braços e os fechassem com um aloquete inquebrável. Entre os dedos escorrem-me lágrimas que voamdos meus olhos como livres papagaios de papel no ar, que depois descem pelas unhas e salpicam o chão como gotas de água que regam as flores secas. Acho que até agora, já perdi parte dos sentidos. Sinto fragmentos de cinza entre cada palavra, olhar, gosto ou o que quer que eu toque. Sou terra podre e seca depois de ser rejeitada, onde brotam flores murchas de pedra, replectas de espinhos cortantes como punhais que trespassam um ser. A tua ausência deixa-me assim, com retalhos de coração nas mãos. (...)

(excerto de "A Intemporalidade de Amar", por Camila Tchékhov)

domingo, 4 de abril de 2010

Capítulo III - Excerto

(...) Sou velha sim, mas ainda consigo escrever, apesar dos tremores e da falta de coerência entre cada letra e frase. Umas saem direitas e belas, outras ficam abaixo da linha e suspensas no nada, no branco do papel. Mas, sei que me entendes, e o mais importante não está escrito neste papiro, mas nas linhas do meu coração cada vez que penso em ti. Os meus dedos já não se conseguem adaptar à forma da caneta ou da pena com que sempre escrevi para ti, por isso uso algo mais flexível, que me deram quando fiquei uns dias paralisada numa cama de hospital. Não sei se alguém vai ler isto mas espero que encontrem este diário algum dia, e sintam pelo menos metade daquilo que eu sinto agora, e tento transparecer com o contorno destas palavras. Vou deixá-lo guardado num cofre debaixo da cama, junto com alguns bilhetes, fotografias, desenhos, pendentes e um colar de pérolas. Fica fechado à chave e com um cadeado dourado e cruzado a envolvê-lo. Quero que fique seguro e quero estar certa que não é encontrado por alguém desconhecido. Está a ficar escuro e acho que me vou deitar mesmo sem jantar. Os meus dentes que em tempos me eram úteis e eficazes, não passam de simples obstáculos da fala e nem me permitem triturar qualquer alimento, e hoje não me apetece lembrar que tenho de ingerir uns alimentos estranhos todos esmagados e líquidos que me provocam dores de estômago. Hoje, quero apenas sonhar com a tua imagem desenhada no céu e sentir-te bem perto de mim, como um dia já deves ter estado. Boa noite. (...)

(excerto de "O Diário de Uma Velhice", por Camila Tchékhov; fotografia : avó)

Capítulo I


Estou velha e cansada. As rugas cobrem-me a angústia e caem sobre os meus olhos. Sinto os membros incapacitados, cada vez mais inertes no meu corpo gasto. As mãos já estão deformadas, e também elas com rugas a caracterizarem a pele. A memória já falha. Não sei quem sou, por vezes. Não reconheço aqueles que me falam e me tocam e acarinham. Não me lembro do barulho da chuva a cair no telhado nem do ribombar dos trovões. Cada vez que há um fenómeno da natureza, têm de me explicar o que é…e só depois me recordo de como eu gostava de andar à chuva e apreciar toda aquela beleza da paisagem do céu a chorar. Sinto-me triste pela traição da minha memória, tenho a certeza que tinha tanta coisa lá guardada de que não me queria esquecer, mas, a velhice ou a sabedoria, como queiras chamar, traz perdas, perdas irremediáveis. Contudo, a pele que hoje visto não é a mesma da juventude. É pesada e sensível. É pálida e escura ao mesmo tempo. O meu Mundo mudou.


(excerto de "Diário de uma Velhice", por Camila Tchékhov)

sábado, 3 de abril de 2010

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A verdade é que nunca imaginei ver o que vejo hoje, defrontar-me com pormenores incomodativos, ter à frente manobras variadas de falsidade e deslealdade. Quando hoje, por segundos, me deparei com determinadas verdades (ou vestígios de erros cometidos) o Mundo caiu-me em cima, ou então subiu tanto que me enterrou pelo pescoço, já nem sei ao certo como me senti, mas escolham a maneira que quiserem, fiquem apenas com a ideia de que me sufocou. Sufocou ao ponto de me tremerem as mãos, da voz se perder algures entre os pensamentos e o que os meus olhos viam, o que a minha mente ouvia e retia naquele momento. Porque haveria aquilo de ser verdade? Porque haveria de mais uma vez, a minha intuição estar certa? A verdade, é que parece que mais uma vez não me enganei, e ali estava a prova viva nas minhas mãos! Resta-me questionar-me a mim mesma, e tentar atenuar a dor que sinto porque afinal, nada está provado! Sim, Camila Tchékhov está na hora de uma vez em dez, não pensares no assunto, distrai-te Camila, distrai-te.......