domingo, 24 de abril de 2011

Sentia o bater do seu coração como os segundos aprisionados num relógio. Não conseguia abstrair-se, aquele barulho incomodava-o... às vezes alternava o ritmo, mas continuava a existir uma batida insuportável. Entrava-lhe pela pele, contornava os dedos das mãos, passeava-lhe as meninas dos olhos e fazia-o chorar como uma criança descontrolada, invadia os ouvidos e ficava lá a gritar. Estava habituado a ouvir-se a ele próprio, mas não como naquele dia. A sua respiração estava ofegante, o que lhe prendia os músculos das pernas à dor e o imobilizava. Escondido num escuro visível ele morria sozinho, estava habituado a fazê-lo diariamente hora após hora, mas naquele dia era diferente. Sentiu um silêncio ainda mais sereno, um sono a pesar-lhe nos olhos e a fechá-los lentamente. Lembra-se de ver um pássaro no beiral, e depois mais nada. Um sono pesado. Para além dele não havia mais nada, só uma vontade de dormir para sempre, e foi o que fez este homem.

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