Jurei não te esquecer, meu amor, jurei. Assim como jurei não voltar a cruzar a rua onde te deixei. Passo as esquinas do tempo e temo ferozmente antever o teu vulto, temo intensamente desviar o meu olhar para os teus dedos meigos e encontrá-los cruzados com outros que não os meus, ver os teus braços apoiados noutros ombros e os teus olhos mergulhados noutra essência. Depois disto desviaria a atenção, fugiria para casa a chorar enquanto com as mãos afastava a multidão que me impedia de andar, pontapeava os casais apaixonados e chorava ainda mais amaldiçoando todas as pessoas que amam.
Mas mesmo assim não te esqueceria, meu amor, não conseguiria arrancar de mim tudo o que um dia foi tatuado em cada poro da minha carne. Mendigaria o teu amor até me dares a insignificativa esmola de um olhar de soslaio. Até que um dia, me cruzaria contigo de novo, tu com os dedos frios e mortos entrelaçados numa mão quente, voltarias o rosto para trás e com o mais duro e penetrante olhar, me suplicarias “Não me deixes”. As minhas lágrimas cairiam e eu sussurrava baixinho “Não, não te deixo. Mendigo e mendigarei sempre o teu amor, até que a esmola seja maior que o sofrimento”. Abandonaria para sempre a tua luz e jamais te encontraria, jamais os nossos destinos se voltariam a ligar.
tentar decifrar as encruzilhadas do futuro é uma aventura dentro de um sonho onde tudo acontece à nossa maneira . Adorei :)
ResponderEliminarDesfecho
ResponderEliminarNão tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte).
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente,
Do teu vulto calado,
E paciente...
E lutei, como luta um solitário
Quando, alguém lhe perturba a solidão
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia...
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.
Miguel Torga, Câmara Ardente