sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

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Transbordo-me a mim mesma. Há um barco que me atravessa a voz, navega entre o estômago e , depois de encalhar , alguns dias, nas costelas rochosas, naufraga. Sai de mim a embalar-me, lentamente, docemente... sai com tudo o que é meu, abandona-me, eu abandono-me. Dou por mim enjoada, talvez da maré, não compreendo, só compreendo o porquê deste embalar, e esta ansiedade de partir a nadar para além de mim, ao encontro de nós, de mim e do eu. O barco que já partiu. Anseio, por entre aquele enjoo balançado, ir com ele. Para onde? Não sei. A maré não me contou, mas também não perguntei. Na realidade, nunca quis saber o destino daquele barco que me abandonou, desde que naquela madeira velha, coubesse tudo de mim. Eu e ele, o meu silêncio. O silêncio do meu embalado naufrágio.

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