terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Carolina.
Era assim que gostava de lhe chamar quando existia num reflexo. Havia nela, subtilmente,  uma tristeza encantadora. Da lua, erguia um brilho pálido que a mistificava, um brilho que desenhava, a carvão, os seus olhos cor de mel, cor daquilo que, outrora, a enjoava.
Quando não chovia, Carolina mudava de tom. Tornava-se numa pequena margarida amarela que florescia, todas as manhãs, nas montanhas longínquas que a sua janela fotografava. Costumava dizer-me, baixinho, que era uma menina de cera. Quando chorava, as meninas dos seus olhos, as duas chamas, apagavam-se lentamente, as amígdalas derretiam-se pela garganta, a cera escorria-lhe até ao fundo do seu peito e ali ficava a secar. Ninguém,  nenhum outro reflexo a veria chorar porque, com todo o amarelo aveludado que se juntava no peito,  iria tecer um manto de chuva para guardar, dizia. Um dia, quando os céus perdessem a esperançosa água,  Carolina, gentilmente,  choraria sobre a terra.

Carolina. Era assim que gostava de lhe chamar quando a chuva aveludada lhe acariciava o rosto.
Carolina. A menina de cera.

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